'Não me preocupo com dieta no Japão', diz repórter
O correspondente da Rede Globo na Ásia, Roberto Kovalick, conta que comida saudável é o segredo para boa forma dos japoneses.Na última sexta-feira (4), o Globo Repórter foi até o outro lado do mundo para descobrir os segredos da alimentação do Japão, o país onde se come bem sem engordar. Depois do programa, o jornalista Roberto Kovalick bateu um papo com os internautas aqui no site e falou mais sobre a comida e os costumes dos japoneses. Ele contou que os hábitos alimentares são tão saudáveis que ele sequer precisa fazer dieta para manter o peso. Segundo o repórter, a falta de espaço é um dos principais motivos para a boa educação, já que as pessoas acabam tendo que conviver muito próximas umas das outras. O correspondente da Rede Globo na Ásia revelou ainda que, em questão de boemia, os japoneses não deixam nada a dever aos brasileiros.
Confira alguns trechos do bate-papo.
Comida brasileira e japonesa
“Gosto da comida japonesa tanto quanto da brasileira. Em termos de sabor, são completamente diferentes. No Japão, a gente tem que se acostumar um pouco com o gosto. Quando saio para jantar com amigos que vêm aqui, eles estranham muito. Eu também estranhei no começo. As diferenças nos sabores são muito sutis, então, temos que acostumar o paladar. Agora, a comida japonesa é mais saudável. Para se ter uma ideia, aqui eu simplesmente não me preocupo em fazer dieta. Quando morei nos Estados Unidos, vivia de dieta para manter o peso. Como naturalmente e chego ao peso ideal.”
Café da manhã
“O café da manhã é uma repetição das outras refeições e é composto, de modo geral, por oito a dez pratos. Mas o arroz e um peixe cozido ou grelhado são básicos. O interessante é que às vezes a gente olha o café e acha que é pouca comida. Mas, depois que comemos, passamos a manhã inteira sem sentir fome e com energia para trabalhar. Além disso, a refeição é extremamente saudável. É muito bem balanceada. O carboidrato é de arroz integral, que demora para ser digerido.”
Metódicos
“Os japoneses são muito metódicos e precisos, não pode ter nada fora do lugar. E isso se reflete em todos os aspectos da vida deles, inclusive na comida. Se você reparar, verá que todas as comidas são separadas em pequenos pratinhos. Eles não misturam tudo. Há um pratinho com arroz, outro com peixe e outro com a sopa. Tem sempre uma lógica e beleza por trás do prato.”
Bebida e noite
“A vida noturna aqui é ainda mais intensa que no Brasil. Eu moro em um bairro boêmio. Às vezes gravo uma matéria para o Jornal Nacional em uma rua perto da minha casa e, se você reparar, ela está lotada de táxis pegando pessoas em bares. O pessoal aqui sai de segunda a sexta, porque eles gostam de sair com os colegas de escritório. As pessoas moram em apartamentos pequenos, às vezes de 13 metros quadrados, então gostam de ficar na rua. Os japoneses têm dois momentos durante o dia. De dia, são metódicos, falam baixinho. À noite, no bar, é uma farra. Todo mundo grita, bebe e se diverte. Chego a ver gente jogada no chão de tanto beber. O curioso é que, mesmo quando bebe, o japonês é contido e respeitoso. Às vezes estou gravando e aí vem um grupo de bêbados falar comigo. Quando digo que estou ocupado, pedem desculpas e vão embora. As pessoas preferem passar os fins de semana com a família, mas, nos outros dias, como dizemos no Brasil, as noites de Tóquio bombam!”
Frutas
“As frutas brasileiras não são conhecidas aqui. Na verdade, fruta aqui é um negócio complicado. As frutas são absurdamente caras. Um motivo para isso é que os japoneses são muito cuidadosos com plantio de frutas. Do Brasil, importam muito pouco, porque têm medo de que entrem certos tipos de doença que não existem no Japão. As frutas nos mercados são perfeitas, deliciosas, mas caras. O melão aqui pode custar até R$ 400. Um morango custa R$ 7. O que fazemos é aproveitar a estação. Agora, por exemplo, é a estação da tangerina, então ela está barata. Os japoneses dão frutas como presente. Se você quiser dar um presente para uma pessoa doente, você não leva flores, leva frutas.”
Estresse
“Na aparência, os japoneses não são muito estressados. Eles estão sempre sorrindo, são muito ‘zen’. Mas a verdade é que são estressados, sim, só não demonstram, conseguem lidar com isso de alguma forma. Eles trabalham muito e têm muitas responsabilidades. Para construir essa sociedade que se tem hoje, é preciso muito trabalho. Há muita cobrança pelo êxito e pelo sucesso.”
Respeito
“Aqui existe uma maneira específica de ver o mundo. Jamais se perturba uma pessoa, a sua presença tem que ser sempre agradável, conveniente e suave. Dá para ver isso até no metrô, onde as pessoas sentam sem cruzar ou esticar a perna para não perturbar quem está ao lado. Creio que a origem disso tudo é a falta de espaço. Como você não tem nem pode ocupar muito espaço na sua casa, acaba tendo que conviver com outras pessoas, então, precisa ser agradável com elas. O resultado é que os japoneses valorizam o sorriso.”
Hospitaleiros
“Fui muito bem recebido aqui. Os japoneses são extremamente educados e respeitosos em todas as circunstâncias. No interior, são mais efusivos, mas lá existe a dificuldade de comunicação, porque nem todo mundo fala inglês. De forma geral, aqui no Japão sou muito mais bem recebido do que eu era nos Estados Unidos, por exemplo, embora não tenha nada contra os americanos.”
Fonte: Globo Repórter